Na Radar DV, cada linha de chegada é antecedida por uma longa jornada de preparo, coragem e acolhimento. Antes de brilharem nas pistas de corrida, nossos atletas com deficiência visual participam de uma rotina de treinamentos cuidadosamente planejada, que vai muito além da prática esportiva — ela ressignifica vidas, amplia horizontes e fortalece vínculos.
Essa missão é conduzida com excelência pela professora Sheila Quintas, profissional com vasta experiência em Educação Física e referência em paradesporto adaptado. Sheila é bacharel em Educação Física pela Universidade Positivo – Curitiba -, possui formação complementar em áreas como pilates, primeiros socorros, esportes adaptados e grupos especiais, além de atuar como educadora social no Instituto Paranaense de Cegos.
Com a Radar DV, sua história começou em 2017, a partir de um convite para conduzir os treinos dos atletas da instituição. Desde então, o vínculo cresceu, transformando-se em um compromisso genuíno com a inclusão, com o movimento e com o ser humano.
Os treinamentos acontecem semanalmente no Colégio Polivalente e, por vezes, em espaços públicos de Curitiba, como o Parque Barigui. Cada sessão tem duração aproximada de uma hora, podendo variar de acordo com o perfil dos participantes. Os treinos são realizados em grupo, mas sempre com atenção individualizada, respeitando o estágio, a capacidade física e as necessidades de cada atleta.
Os principais focos da metodologia são:
Condicionamento físico geral, com fortalecimento muscular, resistência e mobilidade;
Trabalho de coordenação motora, postura e equilíbrio;
Desenvolvimento de orientação espacial, percepção sonora e ritmo;
Construção do vínculo com o atleta guia, estimulando sintonia, confiança e segurança.
Antes de participarem de provas oficiais, os atletas DVs passam por uma etapa de ambientação e adaptação, que envolve conhecimento da faixa de condução, sinalizações sonoras e comunicação com os guias. Tudo é pensado para que a experiência seja segura, prazerosa e libertadora.
E os guias também treinam! Afinal, são eles que interpretam o ambiente, traduzem obstáculos e ajudam o atleta a manter o ritmo. O treinamento conjunto cria cumplicidade, reduz os riscos e fortalece a sensação de pertencimento.
A evolução dos atletas vai muito além do desempenho corporal. Ao longo dos treinos, é visível a melhora na autoestima, na socialização, no humor e na autoconfiança. Muitos deles, antes sedentários e inseguros, passam a se reconhecer como atletas e cidadãos ativos, capazes de ocupar espaços e conquistar metas.
A cada passo dado, a cada quilômetro superado, nasce uma nova história de superação. Sheila se emociona ao relembrar momentos marcantes, como o de atletas que, após anos de inatividade, voltaram a sorrir, venceram o medo de cair ou participaram de sua primeira corrida. “O maior ganho é ver o brilho nos olhos deles e saber que, naquele momento, eles se sentem livres, potentes, capazes”, afirma a professora.
Conduzir os treinamentos é um desafio diário. Requer sensibilidade, paciência, escuta ativa e preparo técnico. Exige adaptação constante aos diferentes perfis e níveis de deficiência, bem como atenção redobrada à segurança. Mas, como afirma Sheila, “…a recompensa está no sorriso, no abraço e na gratidão estampada no rosto de cada atleta ao final do treino”.
Para ela, a Radar DV cumpre um papel vital ao oferecer não apenas estrutura e acolhimento, mas também propósito e dignidade a quem, muitas vezes, já enfrentou a exclusão. “Aqui, cada um é visto, respeitado e incentivado. É um trabalho que muda o mundo aos poucos, começando pelas pessoas.”
Os treinamentos da Radar DV são gratuitos e sustentados por voluntários, apoiadores e doações. Para que mais pessoas com deficiência visual tenham acesso a esse projeto transformador, você também pode contribuir!
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